Tuesday, September 28, 2010

Sociedade Civil #3

Daniel Oliveira em mais um belíssimo texto no Arrastão, Espírito da Igualdade:

«No índice geral de problemas sociais e de saúde, os EUA e a Noruega, os dois com o mais alto rendimento por pessoa, são, respetivamente, o pior e o segundo melhor na qualidade de vida dos seus cidadãos. O Reino Unido e a Suécia, que estão a meio da tabela de rendimentos, são, respetivamente, o terceiro pior e o segundo melhor. Portugal é dos poucos que bate certo: o mais pobre dos ricos e o segundo com piores indicadores sociais e de saúde. Ou seja, nos países mais ricos não há qualquer padrão que estabeleça uma relação entre rendimento médio e qualidade de vida.

Depois fizeram o mesmo exercício comparando a desigualdade entre rendimentos em cada país com os índices sociais e de saúde. Singapura, EUA, Portugal e Reino Unido são, por esta ordem, os mais desiguais. Japão, Finlândia, Noruega e Suécia os mais igualitários. O padrão é quase perfeito: os mais igualitários são os melhores, os mais desiguais são os piores. Por fim, tudo isto é experimentado nos vários indicadores, da obesidade à violência. Fora alguns desvios, bate tudo certo. Não são as sociedades mais ricas que conseguem o melhor para os seus cidadãos. São as mais igualitárias.

Dos vários indicadores analisados, há um especialmente interessante: o grau de confiança que os cidadãos têm uns nos outros. Este indicador é determinante para qualquer ideia de comunidade, sem a qual a democracia é uma ilusão. Mais uma vez, repete-se o padrão: as sociedades desiguais são aquelas em que os cidadãos menos confiam uns nos outros – em Portugal, apenas 11% reponde que a maioria da pessoas é de confiança, na Suécia são quase 70%. A desigualdade económica cria um muro entre os cidadãos e destrói qualquer ideia de pertença.

A ideia de que basta continuar a garantir o enriquecimento dos povos para conseguir o melhor para os cidadãos não é confirmada nos países mais desenvolvidos. Nas sociedades de abundância, é a distribuição equitativa da riqueza que garante o bem comum. Não apenas dos pobres, mas de todos. Um bom livro de cabeceira para os que vacilam na defesa do Estado social e para os que julgam que se salvam deixando um mar de excluídos pelo caminho

Thursday, September 23, 2010

Goldfrapp @ Coliseu

Concerto e público mornos, no entanto, ver Goldfrapp ao vivo foi um acontecimento para mim, que ainda dei uns pulos lá à frente, apesar de não ter sido bombástico como esperava. As mais antigas Trains e Ohh La La souberam bem.

Wednesday, September 22, 2010

Eu tenho dois amores/bilhetes #3

Goldfrapp, hoje no Coliseu. Finalmente vou conseguir ver uma das minhas bandas favoritíssimas e que devem dar um espectáculo... interessante.
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Joan as Policewoman, 16 de Outubro no CC Olga Cadaval, Sintra Misty. Uma descoberta recente, derivado Cat Power, mas que me agarrou à segunda, especialmente com Holiday.


Sunday, September 19, 2010

Remember Days of Summer



Filme-veículo para Robert Pattison brilhar, vazio em originalidade, dramalhão inconsequente e sem nada a dizer.
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O cartaz não tem nada a ver com o que o filme realmente é.

O filme sensação do ano passado mas que acabou por passar ao lado, de salas e de aclamadas qualidades, tem pelo menos a originalidade de contar uma história sobre o desapaixonar. O final fofo não nos deixa em maré baixa, o que acaba por ser simpático.

Thursday, September 16, 2010

Eclipsados

Achei piada a esta crítica, no Noite Americana, que me parece resumir bastante bem a saga teenager, apesar de ainda não ter visto o 3º capítulo, Eclipse:
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"Este filme é um bocadinho melhor que os outros. Mas ser um bocadinho melhor que zero continua a não ser grande coisa. O que é que “Eclipse” tem de melhor? Três coisas: vestígios de sentido de humor na forma de auto-ironia (a dada altura, Taylor Lautner lá aparece em tronco nu porque sim e Robert Pattinson faz a questão que vai na cabeça de todos: “Mas este tipo não tem uma t-shirt?”). A protagonista Kristen Stewart já só passa oitenta por cento do filme a olhar para o chão e, às vezes, quase parece estar viva.

À parte isso, continuam lá todos os males. Uma história sem sabor nem emoção que anda a passo de caracol, suspense para acontecimentos sem qualquer importância, diálogos vazios e uma intrigante falta de contacto com o universo que deveria servir de matriz ao filme: os vampiros. Sabemos que os Cullen, a família de Edward (Pattinson), são vampiros porque, de vez em quando, uma personagem o recorda porque, na verdade, podiam ser góticos, albinos, modelos no desemprego, mormons, técnicos oficiais de contas.
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No eixo da trama, persiste o mesmo problema: Bella (Stewart) ama muito Edward e ele ama-a muito também. Ela quer ser vampira como ele e ele aceita, desde que casem. Mas nunca mais casam nem ele a transforma em vampira, porque se arriscavam a ficar sem assunto e, afinal, ainda há dois filmes e uns quantos milhões de dólares a fazer. Em todo o caso, Edward deveria apressar-se: é que ele é imortal; já Bella, qualquer dia, ou entra na menopausa ou bate a bota.

Em cima deste terrível drama que só importa aos dois meninos, há, de novo, Jacob (Lautner). Para que serve ele, além de vender posters a moças de doze anos? Para que Bella, a tal que ama muito Edward, fuja para os braços de outro, assim que o jovem pálido lhe diga uma palavra menos conveniente. Tudo muito maduro, portanto.

O terceiro volume tem uma moral óbvia: as escolhas. A juventude está a fazer a festa de graduação e precisa de escolher o que quer ser na vida. Tal como Bella tem de escolher ser vampira ou humana, fazer carícias nos caracóis de Edward ou nos bíceps de Jacob, continuar a ser tontinha ou mudar de atitude. E é isto. No fim, é claro, não há qualquer resposta consistente. Edward e Bella regressam ao campo florido onde, volta e meia, aparecem deitados, fazendo a ponte com a castidade defendida pela saga e que surge, agora, mais explícita que nunca: não há sexo antes do casório porque os vampiros são rapazes à antiga. O princípio, de tão contra-corrente, até poderia ser interessante, mas transborda para uma bocejante assexualidade geral de toda a saga."

Thursday, September 09, 2010

Sociedade Civil #2

  • David Platt afirma que «o mundo material é demasiado destruidor da alma. "O sonho americano difere radicalmente do chamamento de Jesus e da essência dos Evangelhos", defende. O sonho americano dá ênfase ao engrandecimento e crescimento pessoais. As nossas capacidades são os nossos melhores trunfos. Mas os Evangelhos rejeitam a ênfase na própria pessoa: "Na verdade, Deus gosta de exaltar a nossa incapacidade". O sonho americano privilegia a ascensão sócio-económica, mas "o êxito, no Reino de Deus, passa pelo despojamento, não pelo engrandecimento." Os argumentos de Platt são velhos, mas surgem num momento pós-excessos, quando as atitudes para com a vida material estão desvalorizadas. O livro dele tocou um nervo sensível. O seu tomo sobre a renúncia vende-se como pãezinhos quentes. As críticas literárias são calorosas. Os leitores, em locais como a Convenção Baptista do Sul estão a apelar aos cidadãos para que renunciem ao sonho americano.»

David Brooks in i online.

  • Crescer e assumir responsabilidades: «São, todos estes, as pessoas que não se deixaram levar pelo ambiente social no qual cresceram, que não se deixaram influenciar pelos maus exemplos dos que os rodeiam, que não se acomodaram em justificações confortáveis como "todos fazem o mesmo" ou "tive uma infância infeliz". Pelo contrário, enfrentaram a sociedade e o seu conformismo, afirmando a sua integridade, a sua liberdade.»

Francesco Alberoni in i online.

  • «Lisboa e Porto estão à cabeça da lista das cidades da UE que mais se despovoaram desde 1999 e com o maior índice (24%) de habitantes com mais de 65 anos.(...) Segundo um estudo de 2008, em Lisboa há quatro mil edifícios abandonados, num total de 55 mil. Nos últimos 30 anos, Lisboa perdeu cerca de 100 mil habitantes por década e passou de 800 mil habitantes para o meio milhão atual. Salgado diz ter “perfeitamente identificadas” as causas do despovoamento: “A má qualidade dos equipamentos de proximidade: creches, escolas, centros de saúde; a procura de casas unifamiliares; e, mais importante, o preço do metro quadrado, que em Lisboa é duas ou três vezes mais caro do que nos municípios limítrofes”. Um quarto da população da cidade vive no limiar da pobreza, segundo os cálculos da Câmara. Reformados, desempregados, pessoas que vivem do rendimento mínimo, de um lado. Do outro, os que têm mais recursos e têm acesso, sem problemas, ao mercado de habitação em Lisboa. Em muito casos têm, também, casas nas zonas mais exclusivas dos arredores, como Estoril e Cascais. A cidade tem 650 mil postos de trabalho, mas apenas 500 mil residentes, dos quais só um quarto é ativo, explica o vereador. “Isto significa que, todos os dias, entram e saem de Lisboa mais de meio milhão de pessoas. É uma situação praticamente única na Europa, só comparavel a Oslo, que tem mais em comum com as cidades dos Estados Unidos”, diz o geógrafo João Seixas, professor de Geografia na Universidade de Lisboa.»

in PressEurop.

  • João Távora, Corta Fitas, Telejornal: «Há muito tempo que não assistia a um telejornal generalista e confesso que a coisa hoje me impressionou: para lá da exploração dos incêndios florestais até à exaustão, impera um formato folhetim com três ou quatro temas em episódios sem novidade, originalidade ou densidade, talvez para que o espectador não estranhe quando a telenovela começar a seguir. Tudo se adapta a este formato estupidificante: o assassino em série, a política, o futebol, mesmo que não haja “notícia” que afinal é o menos importante. Dê-se ao povo o que ele quer… consumir. Em termos internacionais, tirando algum escândalo ou tragédia, não se passa nada no Mundo e o fundamental é atiçar comedidamente os instintos da turba sem pensar muito. Afinal, para as pessoas viverem nesta “redoma mediática”, não vejo por que não se suprimam os chumbos e o que resta do Ensino: nem saber ler é preciso.»

in Corta Fitas.

Thursday, September 02, 2010

O Alfaiate Lisboeta

Gostei deste blog, gostei especialmente deste post:

  • Um londrino passa o dobro do tempo que um lisboeta nos parques da sua cidade.
  • Só no centro histórico de Tallin há mais 23 esplanadas que em Lisboa e toda a sua área metropolitana.
  • A percentagem de executivos suecos que usa fatos de linho é o dobro da dos executivos portugueses.
  • Os habitantes de Dublin sorriem, em média, mais 2,43 vezes por dia que os lisboetas.
  • Em média, um guarda-roupa duma madrilena tem mais 4 mini-saias que o de uma lisboeta.
  • Em pleno Dezembro, há cerca de mais 5.000 ciclistas nas ruas de Riga que nas nossas avenidas.
  • Entre 21 de Dezembro 21 de Março um milanês, em média, junta-se 7 vezes mais com os seus amigos depois do trabalho que um lisboeta (essa mesma relação, entre 22 de Março e 20 de Junho, dispara para 11 para 1).
  • A probabilidade de um lisboeta experimentar, a partir das 17h de Domingo, um sensação de apatia aguda ou leve depressão por não conseguir tirar da cabeça a ideia de que terá que trabalhar no dia seguinte é 9 vezes superior à dum berlinense.
  • Por ano, realizam-se 3 vezes mais concertos ao ar livre em Bruxelas que em Lisboa.
  • Um adolescente moscovita tem 3,5 vezes mais lata para abordar a miúda que mora na rua da frente com quem se cruza diariamente enquanto ambos passeiam seus cães que um adolescente lisboeta (sabendo-se que este último, apesar de ter a jogar a seu favor uma probabilidade 7 vezes inferior de estar a chover e 23 de estar um frio de rachar, prefere tentar encontrá-la no Facebook).