Sunday, February 06, 2011

Black Swan

Darren Aranovsky é um realizador difícil de engolir. Requiem For a Dream é, para mim, intragável, tal a crueldade do filme. The Fountain disse-me pouco. The Wrestler disse-me pouco mais. E para não fugir à regra, este Black Swan que anda nas bocas do mundo, principalmente pela sua protagonista, a perfeita Natalie Portman, passou-me completamente ao lado.

E eu revejo-me no que se lê no Sound+Vision:

Em boa verdade, este é um filme liminarmente insultuoso para o ballet, reduzindo-o a uma performance que depende apenas da actividade sexual da protagonista: desesperado com a inexpressividade de Nina (Natalie Portman), o encenador (Vincent Cassel) aconselha-a mesmo a ir para a casa e... recorrer ao onanismo como gloriosa porta de entrada (?) nas maravilhas da dança. Tudo isso servido por um estilo que, desde os corredores escuros até aos espelhos quebrados, aplica os mais banais clichés do cinema de terror. Referindo-se a tão “disparatado terror”, o crítico Kirk Honeycutt (The Hollywood Reporter) escreveu mesmo que Cisne Negro se perde no “buraco do ridículo”. Não foi o único. James Wolcott (Vanity Fair) refere o horror, não do filme, mas face ao filme, partilhado com uma amiga, bailarina profissional, que o acompanhou; Apollinaire Scherr (The Financial Times) considera que “um pouco de respeito” teria permitido a Aronofsky fazer “um filme menos odioso”.

É isso.

3 comments:

Loot said...

"liminarmente insultuoso para o ballet, reduzindo-o a uma performance que depende apenas da actividade sexual da protagonista"

Não interpretei nada assim. A Nina nunca necessitou de recorrer à sua sexualidade para ser uma excelente bailarina, ela é o Cisne branco, sempre o foi.

O lado sexual é explorado para um papel em particular o do sedutor Cisne Negro. Basicamente a femme fatale dos cisnes e aqui sim faz-me sentido essa exploração.

David Chaves said...

Aronofsky é um realizador que gosta de tomar riscos e explora muito a psicologia e o mundo das suas personagens, mundo esse normalmente em espiral decadente rumo ao degredo tanto fisico como psicológico. É algo que está muito presente ao longo de todos os filmes.
Para mim este Black Swan é Aranofsky a voltar novamente à sua primeira longa "Pi" de 1998, filme onde um brilhante matemático obcecado pelo número pi se propõe deslindar o mistério das coisas recorrendo ao famoso número enquanto se embrenha cada vez mais na paranóia. O filme acaba com o senhor a meter uma broca na cabeça e a encontrar finalmente a sua tão ansiada tranquilidade.
Black Swan não é um filme sobre Ballet, daí não ser insultuoso ou redutor. É a meu ver, um filme onde uma jovem mulher dominada pela mãe se propõe alcançar um papel que a coloca em contacto com algo bem escondido dentro dela (é de reparar que ainda ao inicio do filme antes do treinador insistir com ela, antes de conhecer Lilly, Nina já vê a sua sócia nas ruas e dentro do Metro). Este Cisne Negro é algo que Nina não ousa ver nem tocar, mas cuja aproximação é necessária para que ela possa alcançar a perfeição. Black Swan não é só paranóia, nem delirio. A sexualidade está muito vincada no filme, mas tal também não acontece por acaso. O Cisne Negro é uma Nina apaixonada e apaixonante, fogosa, sedutora, a mulher que engana o principe com o seu corpo e o seu charme e que nega a destruição da maldição a que o Cisne Branco está sujeito. E esta outra Nina negra é a soma de todos os recalcamentos a que se submeteu no passado (devido ao domino da sua mãe, e à sua busca da perfeição no ballet como Cisne Branco).
Black Swan está para o ballet como Million Dollar Baby está para o boxe. São filmes que não são sobre a dança e a luta respectivamente, mas sobre as suas personagens e no que elas se encontram a atravessar. E também em Black Swan, esta é a última dança, em que Nina de si para si executa os últimos passos à medida que o cenário colapsa e rapidamente se entrega ao seu abismo.

Nia said...

Wow David, que belo tratado ;)

Que tens feito, ninguém te vê... :O

Bjs