Friday, April 17, 2009

National Geographic Portugal Abril 2009

Austrália: «O mais árido dos continentes habitados do planeta atingiu níveis perigosos de escassez de água. (...) Embora por norma os australianos estejam habituados a enfrentar vagas de seca, a actual seca de sete anos é a mais devastadora dos últimos 117 anos com registo histórico. Para muitos, os padrões erráticos da pluviosidade trazem a marca das alterações climáticas provocadas pelo homem. (...) Inquestionável parece ser o facto "de se ter registado um aumento de três graus Celsius da temperatura nos últimos 15 anos, o que provoca níveis superiores de evaporação na nossa água. Isto é alteração climática", explica Tim Kelly, especialista australiano em ciências ambientais.

(...) Os europeus que desceram as encostas da bacia de Murray-Darling (uma vasta planície semiárida quase do tamanho conjunto de Espanha e França) foram enganados por uma sucessão de anos húmidos registada em meados do século XIX (...). Seguindo os hábitos que traziam das terras de onde eram originários, os colonos abateram cerca de 15 mil milhões de árvores. Sem perceberem as consequências da perturbação de um ciclo hidrológico bem enraizado e ao eliminar a vegetação bem adaptado às condições áridas (...).

Naquilo que parece configurar-se como um exemplo de aviso para outros países desenvolvidos, a 15ª maior economia do mundo está a aprender lições duras sobre os limites dos recursos naturais, numa época de alteração climática. O lado positivo é que poderão ser os australianos a ensinar essas lições ao resto do mundo industrializado.»

«(...) Os climatologistas que examinavam registos provenientes do fundo de lagos e do leito oceânico descobriram que, exactamente na época em que o [primeiro] império [que terá existido sobre a terra, conhecido como Acádia] soçobrou, a pluviosidade na região baixou drasticamente. Crê-se actualmente que o colapso de Acádia se ficou a dever a uma seca devastadora. Entre outras civilizações cujo desaparecimento foi recentemente atribuído a alterações de pluviosodade, contam-se o Império Antigo do Egipto, a civilização de Tiahuanacu, (...) e a civilização maia clássica, que sucumbiu no apogeu do seu desenvolvimento, aproximadamente em 800 d. C.»

«O ar quente carrega mais vapor de água (em si, um gás com efeito de estufa) e, por isso, um planeta mais quente é um planeta cuja atmosfera contém mais humidade. Por cada grau a mais de temperatura atmosférica, um determinado volume de ar perto da superfície contém aproximadamente mais 7% de vapor de água. Numa só década, entre 1996 e 2005, o número de desastres causados por cheias em terras do interior duplicou relativamente às três décadas anteriores, entre 1950 e 1980. (...) Entretanto, a ilha de Chipre encontra-se tão ressequida que, no Verão de 2008, os níveis dos seus reservatórios desceram para apenas 7%, o que obrigou a ilha a importar água da Grécia.»

«É provável que as crises de escassez de água, em especial, criem ou exacerbem as tensões internacionais. O aumento das temperaturas já está possivelmente a engrossar as fileiras dos refugiados internacionais. "Na actualidade, as alterações climáticas são um dos principais factores responsáveis pelas deslocações forçadas", afirmou António Guterres, o alto comissário das nações Unidas para os Refugiados. Elas contribuem também para os conflitos armados. Alguns especialistas associaram os combates em Darfur, que ceifaram cerca de 300 mil vidas, às alterações de pluviosidade na região (...).»

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